Não é Só o Bibi || D.Pedro Casaldàliga z”l

 

Oposição israelense está fazendo o jogo perigoso de “Bibi-Não”

A direita deve muito aos protestos da esquerda. Esse protesto legitima a direita, “lava” seus crimes, consolida seu controle e lhe dá uma legitimidade que nunca teve.

É assim que são as coisas quando um protesto focaliza apenas o destino de uma pessoa, com o alvo sendo “Bibi não”. Tal esforço torna o adversário real, a direita, como seu gêmeo quase desejado, caso exclua Benjamin Netanyahu. Qualquer coisa que não seja Bibi é um sonho. Qualquer um que não seja ele, é um redentor.

Vamos nos livrar dele e ficaremos todos bem… Esta é uma abordagem perigosa. Acabará na perpetuação do domínio da direita, deixando sua ideologia como a única.

Não é só o Bibi, estúpido! Oposição israelense está fazendo o jogo perigoso de “Bibi-Não” A protester dressed up as Benjamin Netanyahu in Tel Aviv, August 5, 2020.Credit: Tomer Appelbaum [ por Gideon Levy | Haaretz | 08.08.20 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR] A direita deve muito aos protestos da esquerda. Esse protesto legitima a direita, “lava” seus crimes, consolida seu controle e lhe dá uma legitimidade que nunca teve. É assim que são as coisas quando um protesto focaliza apenas o destino de uma pessoa, com o alvo sendo “Bibi não”. Tal esforço torna o adversário real, a direita, como seu gêmeo quase desejado, caso exclua Benjamin Netanyahu. Qualquer coisa que não seja Bibi é um sonho. Qualquer um que não seja ele, é um redentor. Vamos nos livrar dele e ficaremos todos bem... Esta é uma abordagem perigosa. Acabará na perpetuação do domínio da direita, deixando sua ideologia como a única. O editor-chefe do Haaretz, Aluf Benn, o colocou bem nesta 6ª feira. Ele recordou a todos que celebram prematuramente, que mesmo quando Netanyahu tiver saído, seus apoiadores ainda estarão aqui. Sua advertência merece um asterisco: Veja o que está acontecendo. A repulsa sentida por Netanyahu está legitimando tudo que não é ele. De repente, a nomeação de Gilad Erdan e Tzipi Hotovely como embaixadores são uma perda para a política israelense. “Erdan, uma das faces mais respeitáveis do Likud”, escreveu Yossi Verter no Haaretz de 6ª feira. Usando uma palavra que também pode ser traduzida como “quase-estadista”. Erdan? Quase-estadista? Vamos jogar a toalha? Erdan, líder de uma guerra suja contra críticos de Israel em todo o mundo, é um quase-estadista? Ele foi o ministro da segurança pública que acusou falsamente um cidadão beduíno inocente que tinha sido assassinado sem motivo pela polícia, uma agência que estava a cargo dele. Eran nunca se preocupou em se desculpar. Foi o ministro que liderou a horrível política de criminalizar qualquer crítica à ocupação, baseada em fundos enormes, disfarces e outros esforços questionáveis, dos quais apenas alguns já foram expostos. E agora ele é considerado não apenas legítimo mas um quase-estadista. Se Erdan é um quase-estadista, quem não é? Um ministro que aperte o gatilho ele mesmo? E veja Hotovely. Como pode um político ultranacionalista alocado em Londres ser considerado uma perda para a cena política israelense? Parece que o fato desses dois terem sido menos obsequiosos com Netanyahu os tornou símbolos de política de estadista. Gideon Sa’ar é outro objeto das aspirações de centro-esquerda. É um dos políticos mais extremistas, racistas e perigosos na direita. Foi ele que propôs a criação do centro de detenção Holot e propôs um lei “anti-infiltração” instalando uma forte política de caça aos reivindicantes de asilo, Agora ele é considerado legítimo por um campo que se pretende ser da esquerda. Sa’ar deveria ser desqualificado para sempre, por qualquer pessoa consciente, mas não quando o vemos com o diabo encarnado, Netanyahu. Comparando com Bibi, vale tudo, todo resto é bom. E aí, claro, vem Naftali Bennett, atual menina dos olhos da esquerda, ora florescendo nas pesquisas de opinião. Um retorno de Ayelet Shaked, outra ex-queridinha da esquerda, também está acontecendo. Deixe que sejam racistas e ultranacionalistas, contanto que não sejam Netanyahu. Os inimigos do meu inimigo são meus amigos, não importa o que representam. É assim quando há incêndio e ódio cego. Essas pessoas continuarão a ameaçar juízes, perseguir requerentes de asilo, apoiar o capitalismo selvagem, incitar contra cidadãos árabes de Israel e consolidar o apartheid. Serão perdoados por tudo. Bibi destruiu coisas e Bennett irá construir; Netanyahu disseminou o veneno e Erdan, Sa’ar e Hotovely irão gozar um amor fraternal. Que venham mais 50 anos de ocupação, deixe que a política de discriminação e humilhação de cidadãos árabes e a perseguição a requerentes de asilo continuem, deixe que o exército continue matando manifestantes palestinos e deixe que a polícia continue usando violência e os deficientes continuem recebendo benefícios miseráveis. O principal é se livrar de Netanyahu. Ao final não haverá mais Netanyahu. Alívio, alegria e satisfação lavarão a esquerda e os juízes e o resto das instituições ameaçadas. Israel verá a alvorada de um novo dia. E então, seu sucessor será indicado, alguém da direita obviamente, e o campo, embriagado de sucesso e exausto de seu protesto, se verá neutralizado. É assim que as coisas acontecem, quando o vagão está vazio e nenhuma alternativa é oferecida. Então Sa’ar, Bennett ou outro da direita poderá aprovar leis no estilo de Victor Orban ou Jair Bolsonaro, sem impedimento. Afinal, o perigo terá passado, a vitória terá sido alcançada - e o demônio terá desaparecido.

O editor-chefe do Haaretz, Aluf Benn, o colocou bem nesta 6ª feira. Ele recordou a todos que celebram prematuramente, que mesmo quando Netanyahu tiver saído, seus apoiadores ainda estarão aqui.  Sua advertência merece um asterisco: Veja o que está acontecendo. A rejeição sentida a Netanyahu está legitimando tudo que não é ele.

De repente, a nomeação de Gilad Erdan e Tzipi Hotovely como embaixadores são uma perda para a política israelense. “Erdan, uma das faces mais respeitáveis do Likud”, escreveu  Yossi Verter no Haaretz de 6ª feira. Usando uma palavra que também pode ser traduzida como “quase-estadista”. Erdan? Quase-estadista? Vamos jogar a toalha?  

Erdan, líder de uma guerra suja contra críticos de Israel em todo o mundo, é um quase-estadista? Ele foi o ministro da segurança pública que acusou falsamente um cidadão beduíno inocente que tinha sido assassinado sem motivo pela polícia, uma agência que estava a cargo dele. Eran nunca se preocupou em se desculpar.

Foi o ministro que liderou a horrível política de criminalizar qualquer crítica à ocupação, baseada em fundos enormes, disfarces e outros esforços questionáveis, dos quais apenas alguns já foram expostos. E agora ele é considerado não apenas legítimo mas um quase-estadista. Se Erdan é um quase-estadista, quem não é? Um ministro que aperte o gatilho ele mesmo?

E veja Hotovely. Como pode um político ultranacionalista alocado em Londres ser considerado uma perda para a cena política israelense?  Parece que o fato desses dois terem sido menos obsequiosos com Netanyahu os tornou símbolos de política de estadista.

Gideon Sa’ar é outro objeto das aspirações de centro-esquerda. É um dos políticos mais extremistas, racistas e perigosos na direita. Foi ele que propôs a criação do centro de detenção Holot e propôs um lei “anti-infiltração” instalando uma forte política de caça aos reivindicantes de asilo,

Agora ele é considerado legítimo por um campo que se pretende ser da esquerda. Sa’ar deveria ser desqualificado para sempre, por qualquer pessoa consciente, mas não quando o vemos com o diabo encarnado, Netanyahu. Comparando com Bibi, vale tudo, todo resto é bom.

E aí, claro, vem Naftali Bennett, atual menina dos olhos da esquerda, ora florescendo nas pesquisas de opinião. Um retorno de Ayelet Shaked, outra ex-queridinha da esquerda, também está acontecendo.

Deixe que sejam racistas e ultranacionalistas, contanto que não sejam Netanyahu. Os inimigos do meu inimigo são meus amigos, não importa o que representam. É assim quando há incêndio e ódio cego.

Essas pessoas continuarão a ameaçar juízes, perseguir requerentes de asilo, apoiar o capitalismo selvagem, incitar contra cidadãos árabes de Israel e consolidar o apartheid.

Serão perdoados por tudo. Bibi destruiu coisas e Bennett irá construir; Netanyahu disseminou o veneno e Erdan, Sa’ar e Hotovely irão gozar um amor fraternal.

Que venham mais 50 anos de ocupação, deixe que a política de discriminação e humilhação de cidadãos árabes e a perseguição a requerentes de asilo continuem, deixe que o exército continue matando manifestantes palestinos e deixe que a polícia continue usando violência e os deficientes continuem recebendo benefícios miseráveis. O principal é se livrar de Netanyahu.

Ao final não haverá mais Netanyahu. Alívio, alegria e satisfação lavarão a esquerda e os juízes e o resto das instituições ameaçadas. Israel verá a alvorada de um novo dia.

E então, seu sucessor será indicado, alguém da direita obviamente, e o campo, embriagado de sucesso e exausto de seu protesto, se verá neutralizado. É assim que as coisas acontecem, quando o vagão está vazio e nenhuma alternativa é oferecida.

Então Sa’ar, Bennett ou outro da direita poderá aprovar leis no estilo de Victor Orban ou Jair Bolsonaro, sem impedimento. Afinal, o perigo terá passado, a vitória terá sido alcançada – e o demônio terá desaparecido.

 

[ por Gideon Levy | Haaretz | 08|08|20 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

 


DOM PEDRO CASALDÀLIGA  Z”l

 


Dom Pedro Casaldàliga nos deixou.

Um Homem Justo, como poucos que aparecem em cada geração. Um Lamed Vav.

Dom Pedro foi um dos primeiros signatários brasileiros da Declaração Conjunta Israelense-Palestina pela PAZ, em agosto de 2001, que recebeu mais de mil firmas de formadores de opinião brasileiros e ensejou a recriação dos Amigos Brasileiros do PAZ AGORA.

O Brasil ficou mais pobre, e nossos pobres ficam com menos esperança.

PAZ AGORA|BR


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