GABY LASKY | a voz do PAZ AGORA no KNESSET !

 

A advogada israelense-mexicana , ex-Secretária Geral do Movimento PAZ AGORA,  prestou juramento nesta quarta-feira como nova deputada do Parlamento israelense (Knesset).

Ainda que Gaby ocupasse o 8º lugar na lista de candidatos do partido Meretz, que conseguiu 6 lugares (só 1 a menos que o partido do novo primeiro-ministro), com a demissão de Nitzan Horowitz (que assumiu o Ministério da Saúde), e Tamar Zandberg (Ministra da Proteção Ambiental), Michal Rozin e  ocuparão seus lugares,

 recebeu 16 novos membros nesta semana, correspondentes a deputados que renunciaram ao  em virtude da controvertida “Lei Norueguesa” para se dedicarem exclusivamente aos seus deveres como ministros.

  uma controvertida advogada de direitos humanos que frequentemente representa  palestinos, seguramente fará un papel muito importante nas novas funções, expressou em entrevista o “Diario Judio” do México.


Entrevista exclusiva de Gabriela Lasky, advogada israelense de origem mexicana que demonstra seus valores judaicos defendendo direitos humanos de palestinos

G. Lasky: Estudei Leis, história da arte, antropología e sociología e, quando estudante, me envolvi na política estudantil da universidade de Tel Aviv. Depois das eleições de Rabin, fui trabalhar no Knesset com um deputado que era presidente do comitê de Leis e Constituição. Aí vi como por meio da lei se pode mudar a realidade. Então disse: é isso que quero fazer! E fui estudar Leis. Enquanto trabalhava me fiz advogada, precisamente para defender os direitos humanos da sociedade civil.

Diario Judío: Agora diga-me, dentro de tudo isto você foi se especializando na busca da paz… Como defensora dos direitos humanos, como vê o processo de paz?

G. Lasky: Veja  primeiro, neste momento, lamentavelmente não há processo, mas sigo convencida de que se pode chegar a um acordo vital se terminar o conflito israelense-palestino; e sobretudo agora que há uma conjuntura especial de interesses entre Israel e os países árabes falando de questões de direitos, de defesa e portanto temos que arrumar este momento e finalizar o conflito Israel-Palestina e, ao mesmo tempo, abrir este processo para fazer acordos com outros países árabes, também economicos, para abrir mercados, mas também e sobretudo para utilizar esses acordos como parte importante da segurança de Israel.

G. Lasky: Temos que ver que, antes de 77, o Egito era o pior inimigo de Israel e de comum acordo saímos de todos os territórios deles que havíamos ocupado, E fizemos um acordo de paz em 77 que é bom e duradouro e que se mantém desde então. Trata=se de chegar a um acordo assim com os .

Creio que não houve lideres, tanto em Israel como na Palestina, suficientemente grandes para aceitar o preço que se tem que pagar para a paz, pelos dois lados…

Estou muito preocupada como israelense sobretudo, de que se não chegarmos a um acordo em breve, vá ser impossível criar um Estado Palestino viável, porque toda a colonização, todos os assentamentos, estão dentro de territórios palestinos, então não será possível um Estado viável. Então, o que irá acontecer é que não será possível criar a Solução de Dois Estados, Israel e Palestina vizinhos um ao outro, e poderão acontecer duas coisas: ou Israel se converte em um Estado com maioria não judia, uma maioria palestina. Aí Israel deixará de ser um Estado do povo judeu, porque não haverá maioria de judeus nesse Estado.

Ou não se darão direitos iguais aos palestinos, tornando-se um Estado de apartheid. O que quer dizer que se não dermos uma solução a este conflito e que a solução seja de Dois Estados para Dois Povos, vamos ficar com um Estado com minoria judia ou com um Estado de apartheid. E, a meu ver, estas duas opções são intoleráveis. Eu creio que o povo judeu tem a responsabilidade de pedir que se chegue a um acordo com os palestinos porque, caso contrário, nós mesmos estaremos terminando com a possibilidade de manter um Estado judeu em Israel.

 

Diario Judío: Gaby, mencionaste que é responsabilidade de todo judeu buscar Dois  Estados. E o lado palestino, também tem a mesma responsabilidade ?

G. Lasky: Claro que sim!  Os palestinos também têm responsabilidade pelo seu bem estar, para poder manter um Estado. Obviamente, parte de sua responsabilidade é não  utilizar o terrorismo como seguro contra de civis para chegar a esse Estado, fazer uma diplomacia forte e valente. Claro que as duas partes tem essa responsabilidade e saber que não vão conseguir receber tudo o que quiserem numa negociação.

Diario Judío: Você disse que não há líderes dispostos a pagar o preço do que se necessita. Qual seria o preço para os israelenses? E para os palestinos?

G. Lasky: O preço para os israelenses é sair dos territórios ocupados e o preço para os palestinos é que de alguma maneira terão que aceitar que o retorno dos palestinos que saíram em 77, não todos poderão regressar a Israel; podem regressar ao Estado da Palestina mas não a Israel, então também istoé algo que se deve levar em conta. E obviamente terá qu haver um arranjo sobre Jerusalém.

Diario Judío: Sobre toda Jerusalém, sobre partes de Jerusalém? Se chegasse hoje ao Knesset e, por azar, você fosse encarregada. O que você faria com Jerusalém, Gaby?

G. Lasky: Jerusalém é a parte ocidental, a capital de Israel; não preciso de Trump nem de ninguém para aceitar que Jerusalén é a capital de Israel, que é a capital desde a criação do Estado em 48; e a parte oriental pode ser a capital da Palestina e há várias opções do que fazer com a Cidade Velha, que pode ser uma “dual city”, pode ser internacional, pode ser um quarto de Israel, um muçulmano, etc… Há diferentes opções e o acordo de Genebra.

Israelenses e palestinos já apresentaram diferentes opções, pode-se chegar a um acordo, A grande pergunta é: teremos líderes que liderem ou que se escondem atrás do populismo?

Diario Judío: Vê alguém em Israel?

G. Lasky: Deve haver, mas não vejo. Nem Netanyahu nem os que estão agora, A História está chamando neste momento para fechar este capítulo tão triste e duro, e ninguém toma este papel que a História gostaria de lhes dar.

Diario Judío: Uma aposta dos governos, em algum momento o problema ou o conflito palestino, os palestinos eram como o centro de toda a problemática do Médio Oriente, hoje em dia com diferentes acordos, creio que foram passados a um segundo plano. Quando tem Isis, Abás, Irã, quando tem outros acordos, a Arábia Saudita mais preocupada por outros problemas, Egito com outras coisas, está ficando um pouco à deriva tudo o que é palestino ou o apoio aos palestinos ou a luta neste sentido. Está ficando de lado ou continua o centro, o miolo ou o ponto delicado que pode detonar num dado momento algo mais? Muitos esperavam que com a decisão de Trump se disparasse e fosse uma bomba e de certa maneira ficou mais leve… Como vê tudo isto?

G. Lasky: Como disse, os palestinos também têm responsabilidade, dentro de pouco tempo, é certo que o interesse mundial, o interesse árabe, sobre o problema palestino terá baixado, porque terá começado a haver outros problemas que terão tomado maior preferência; e também os países árabes tem problemas internos, que não podem ser acalmados somente apontando um inimigo comum porque isso já não funciona. Então, esses que podem ainda trazer os palestinos à mesa, se chegarmos a um acordo com os palestinos, poderemos trazer outros países árabes, como um “deal” como foi o “Plano da Liga Árabe”, assim apresentado.

Creio que para todos lados é imprescindível chegar a um acordo já. Há obviamente os que preferem não tomar decisões e manter o conflito em “banho maria” sem chegar a nenhuma decisão, mas, como disse, não decidir é decidir e os palestinos têm a possibilidade de que daqui a pouco ninguém vá se interessar mais por sua problemática e que a colonização dos territórios ocupados já não lhes permita ter um Estado. E, por outro lado, existe a problemática, que comentei antes sobre Israel, que podemos chegar a uma realidade em que os judeus sejam uma minoria dentro do país. Israel e Cisjordânia juntos não serão mais um Estado judeu, ou não se darão direitos iguais aos palestinos, e será um Estado de apartheid.

Então, os dois povos estão numa posição em que não podem esperar e têm que chegar ao melhor acordo possível para os dois lados e que todos possam ganhar igualmente com o acordo.  Lamentavelmente, hoje em dia existem outros inimigos de fora, para a segurança do país, que estão na fronteira con Líbano e Síria e com o Isis, que ao mesmo tempo são inimigos dos próprios palestinos.

G. Lasky: Uma parte muito importante da segurança israelense está em mãos da polícia palestina porque Israel e a polícia palestina trabalham muito próximo, para deter e evitar que as organizações terroristas entrem nos territórios ocupados e que não cheguem a Israel, todavia continuam sendo uma parte muito importante da segurança israelense, ainda que as pessoas não saibam ou não queiram ouvir. Mas essa é a realidade.

Não creio que as autoridades palestinas recebam algo das organizações terroristas, mas diplomáticamente é mais inteligente seguir com os acordos de segurança entre Israel e Palestina, que são parte dos acordos de Oslo, da segurança, e é mais importante seguir com eles para tratar de alcançar a possibilidade de chegar a um Estado.

Diario Judío: Então, e aqui caímos um pouco no que tem feito um poco mais de ruíd0 nestes dias, que é esta jovem palestina, falamos de um apartheid, falamos de muitas outras coisas, mas é muito curioso que seja justamente uma advogada israelense que esteja defendendo esta menina, poderia ser uma advogada palestina …

G. Lasky: Há uma diferença entre as leis civis de Israel e as cortes civis de Israel e a corte militar. A corte militar é uma corte de ocupação, o ocupador fez suas leis e caso o povo ocupado não atua de acordo com as leis de ocupação, é levado a uma corte de ocupação; isto sem dúvida traz consigo muitas infrações de direitos humanos e é aí que entro. Sou uma advogada de direitos humanos…

Este não é meu primeiro caso, eu e outros advogados israelenses representamos pessoas nesa corte, represento muitas crianças na corte militar, muitos dos direitos dessas crianças foram violados. Não digo que a ocupação israelense seja tão horrível como ocupações ou governos em outros lugares, mas como israelense tenho responsabilidade de manter o meu povo, minha pátria portando-se de uma maneira moral.

Creio que Israel tem todo o direito de se defender, de se defender com armas, mas também creio que temos uma responsabilidade, de que também Israel tem sempre que tomar a decisão moral, e que não pode infringir os direitos de outros e menos ainda de crianças,  aomda que essas crianças, e neste caso uma menina, tenha levantado suas mãos [para dar uma bofetada num soldado].

Diario Judío: No seu ponto de vista, qual deveria ter sido a reação com esta jovem de 16 anos, não mais uma menina e ainda não um adulto, mas já uma pessoa bastante consciente…  ?

G. Lasky: Primeiro, vamos colocar assim, uma hora antes do incidente do video, seu primo de 14 anos, foi alvejado na cabeça por um soldado; foi levado ao hospital em coma. Os soldados estavam dentro da garagem da sua casa, ela chegou e começou a lhe dizer para irem embora, e não íam… aí ela reagiu como reagiu e é uma menina de 16 anos, que nasceu na ocupação, cujo pai nasceu na ocupação, que nunca viu nem um dia de liberdade e que nesse povoado seguem fazendo manifestações porque os colonos lhes tinham roubado suas terras e um manancial e que o exército defende os colonos para que fiquem com esse manancial. São territórios ocupados.

Sabe que os judeus, quando aqui estava o mandato [britânico] também levantaram armas e também levantaram as mãos para tirar daqui o ocupador?

O que os palestinos veem neste video é que uma menina de 16 anos, desarmada, põe para fora da sua casa soldados armados. Os judeus vêem que uma jovem bate nos soldados que estão aí para defender os colonos e eles ainda que a jovem Ahed os ataca assim, não fazem nada. Então há gente em Israel, como eu, que achar que os soldados atuaram de maneira impecável. Mas há outros que pensam que os soldados, e Israel, foram humilhados por esta jovem palestina. Foi essa humilhação que causou que tenha sido detida e encarcerada…

Israel tem que aspirar sempre ser um país que é moral e que faz as coisas em nome da lei e por isto temos que aspirar, não importa se na China a tivessem matado…

Os soldados se portaram impecavelmente, mas sempre temos que ver os que puseram os soldados nessa posição, que aos 18 anos tem que andar patrulhando e fazendo trabalhos de polícia no meio da população civil. Essa problemática, levou os soldados a fazer um trabalho que não cabe a soldados.

A problemática que a sociedade palestina tem é com a ocupação, não com os israelenses e não com os judeus. É com a ocupação…

Em Israel, como na Palestina, a educação tem que ser no sentido de se respeitar um ao outro, para que possam conviver. A única possibilidade de sobrevivência é conviver um país ao lado do outro, temos que resolver problemas de água juntos, mercados internos pequenos, os grandes problemas de segurança,,, É imprescindível que a educação nos dois lados seja mudada, você sabe que há muito tempo havia muitos projetos de “people to people” que israelenses e palestinos se encontravam, estudantes, professores.

O que acontece é que como há menos convivência entre israelenses e palestinos, a única vez em que um palestino vê um israelense é quando estão vestidos de soldados e os israelenses vêen palestinos quando estão aí como ocupadores. Desta maneira não se chega a ver nenhuma convivência humana. A maioria dos palestinos, como a maioria dos israelenses são pessoas normais que querem viver uma vida boa e deixar a seus filhos um pequeno lugar onde viver e possam realizar seus sonhos e ser felizes.

É a minoria dos dois lados que quer outras coisas ou que tem outras idéias de como resolver o problema. Se nos calamos, estamos dando a mão aos extremistas dos dois lados para seguir vivendo com ódio. A maioria dos dois lados, são gente boa e temos que trabalhar juntos, dos dois lados para poder mudar a situação e fazer Tikún Olam [Melhorar o Mundo]

Diario Judío: Como você é vista?

G. Lasky: Posso dizer que sofro ameaças, me mandam cartas dizendo que eu e meus filhos temos que morrer, uma morte espantosa. Não é fácil, mas por outro lado tenho muito apoio aqui, porque estou defendendo, como em outros casos, os direitos humanos e como disse, todos os homens foram criados iguais e todos temos direitos inerentes que devem ser defendidos, como também disse que políticamente estou muito contra a direita dos colonos.  Se chegar a acontecer que prendam algum colono em detenção administrativa sem julgamento, eu o defenderia, caso ele desejar…

… Este caso da Ahed, é incrível, como uma jovem de 16 anos fez com que a sociedade israelense voltasse a falar da ocupação, que a sociedade israelense que tinha fechado os olhos à realidade da ocupação, tem que falara novamente de falar que há crianças que nascem na Ocupação, que existe um povo inteiro cujos direitos humanos estamos violando e que temos que ver o que fazer para encerrar este círculo vicioso.

Então, este caso, sem nenhuma intenção, abriu uma porta ao tema da Ocupação, que por muito tempo esteve fechada na população israelense.

 

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[ Entrevista concedida por Gabriela Lasky ao ‘Diário Judío’ (México) em 12|01|2018 | traduzida pelo PAZ AGORA|BR ]

 

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